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terça-feira, 25 de setembro de 2012

Carta imaginária De Ronaldo Fraga

Aqui o texto que emocionou a todos no desfile no SPFW de Ronaldo Fraga. Carta imaginária que possivelmente Mário de Andrade teria enviado a Manuel Bandeira.


Ô Manuel...
Nestas andanças por este Brasil, tenho visto e vivido coisas estupendas! Agorinha mesmo minhas retinas beberam a manhã mais linda do Rio Amazonas. Mas nada que me traz saudades hoje, e que me extasia ver, me provocará um dia o desejo de rever com precisão absoluta e fatalizada o que as terras do Grão Pará já o fazem.
Quero o Pará como se quer um amor sobressaltado, como de sobressaltado de paixão esta terra tomou-me, deixando-me doente de desejo.
Aqui, Manuel, as pessoas são seres marchetados em madeira de lei. Os beijos amortecem como o jambu, os corpos têm cheiro de manga e as almas... bom, as almas carregam mistério das águas profundas.
Você, como mestre da escrita, meu querido poeta, conhecerá esta como a terra do superlativo, onde ao procurares o belo e o feio encontrarás o tenebroso e o maravilhoso. Tudo cantado e encantado por uma certa Matita Pereira.
Daria todos os açaís do mundo para vê-lo enfeitiçado por este lugar. O mesmo feitiço amazônico que transforma mulher bonita em castanheira, flores em pássaros , pepitas de ouro em sementes da mata.
Impossível, Manu, descrever em palavras escritas ou faladas os assombros e desassombros deste lugar. E é neste lugar do sem palavras que sua ausência o faz mais presente!
Só me resta nesta embriaguez de paixão vestir o meu linho branco e depois da chuva sentar no terraço do Grande Hotel, com vista para as mangueiras que encobrem o Teatro da Paz e chupitar um sorvete de cupuaçu sem pressa de mais nada.
Você que conhece o mundo , conhece coisa melhor que isso Manuel?
Com saudade, um abraço deste turista aprendiz.

 Sob licença poética, reescrevo aqui esta carta imaginária , que possivelmente Mário de Andrade teria enviado a Manuel Bandeira, caso este tivesse conhecido Fafá de Belém, Dira Paes, Paulo Chaves, Dona Onete, Mestre Verequete e Mestre Catiá, Lino Villaventura e André Lima, as meninas de Tucumã, e escutado as óperas de Waldemar Henrique ou se jogado em uma aparelhagem com Gaby Amarantos. 
Ronaldo Fraga

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